O lateral esquerdo Uendel Pereira Gonçalves, encerra na noite desta quarta-feira, 6 de Dezembro de 2023, sua vitoriosa carreira no futebol profissional, na partida entre Cuiabá, seu atual time, e o Athletico-PR, na Arena Pantanal, em Cuiabá, onde o atleta passou os últimos três anos.
Uendel voltou a jogar na segunda metade deste ano, após se lesionar e operar o joelho no mesmo período de 2022, quando era titular e capitão do Cuiabá. A faixa não chegou ao seu braço a toa. Sua liderança foi se construindo com o tempo no futebol, através de respeito, honestidade e de uma forma muito inteligente de lidar com sua carreira, dentro e fora de campo.
Desde a base, no Criciúma, Uendel dava sinais que seria um jogador diferente do estilo boleirão, que nos acostumamos a ver. Alheio a festas, até certo ponto avesso a exibição em redes sociais, contra ostentação, o sombriense, que nasceu mesmo no Hospital Regional de Araranguá, mas apenas por questões de logística no longíquo ano de 1988, foi criado nas ruas e nos campos do bairro Guarita, em Sombrio.
Na cidade, disputou poucas competições, pois muito cedo passou no teste e foi morar nos alojamentos em baixo das arquibancadas do Estádio Heriberto Hulse. Mas, nas poucas que disputou, ganhava praticamente sozinho jogos por sua escola, Normélio Cunha, ou competições de futsal como Taça Colombo, onde assustou, no bom sentido, quem acompanhava, por sua capacidade técnica e física.
A história de sua ida para o teste no Tigre é cheia de bastidores que hoje, pós carreira, é possível ver que foram coisas de um destino já traçado. Quando foi avisado da peneira que o Tigre faria, avisou em casa, mas sua mãe, Dilseia, tinha lavado seu único par de meião. Fazer o que, tinha que improvisar. O garoto entrou no ônibus, fechou a janela com as meias do lado de fora e foi ao teste, chegando lá com o par sequinho. Na cabeça, uma dúvida: seguia no ataque? Chegando lá, muitos atacantes, a dúvida se desfez, foi para a lateral esquerda, que tinham poucos. E passou, junto de um de seus amigos de infância e companheiros de futebol, que por forças do destino, deixou de jogar meses depois.
Dali pra frente, Uendel foi jogando em todas as categorias, conquistando amizades e respeito em Criciúma, até se destacar no profissional a ponto de interessar o tetracampeão Branco. Imagina você, ser lateral esquerdo e o Branco, na época diretor de futebol, decidir te comprar. Partiu Rio de Janeiro.
Uendel foi pro Flu, teve poucas oportunidades, mas jogou seu primeiro Brasileirão série A, num grande time, abrindo portas como a do Avaí, que já lhe conhecera da época do Criciúma. No Avaí, Uendel é um dos destaques, mesmo revezando com Eltinho, ganha o Catarinense, sobe com a equipe, faz uma série A espetacular com o técnico Silas, a ponto de ser indicado pelo mesmo para o Grêmio, em 2010. No tricolor, chegou lesionado, num time em crise, acabou não jogando, sendo repassado à Ponte Preta.
O auge da carreira em São Paulo
Em Campinas, Uendel também se destaca, fazendo especialmente um Paulistão espetacular, cheio de gols e assistências, culminando com o interesse pelo Corinthians, seu time de coração na infância. No Timão, o sombriense foi Campeão Brasileiro em 2015, sendo peça importante num time forte defensivamente e que tinha no camisa 6, além de um jogador da função, algumas vezes um volante e até um zagueiro. No seu último ano de contrato, o Internacional buscou sua contratação. “não pensei duas vezes, quando meu empresário falou do interesse, logo pedi pra fechar. É a realização do sonho do meu pai e de muitos familiares colorados”, disse ele na época.
Após o Inter, Uendel foi para o Cuiabá e se tornou um dos grandes líderes de um projeto novo, de um time que chegou na primeira divisão e ficou. Na capital de Mato Grosso, faixa de capitão, respeito de todos, ídolo local e uma referência para jovens atletas.
Aliás, aqui vai um capítulo especial. Apoiador do projeto de escolinhas do Guarani, de Sombrio, Uendel é hoje, talvez, o grande exemplo a ser seguido por jovens aspirantes a atleta. Não só pelas conquistas, mas pelo que é também fora dos gramados.
Uendel merece os parabéns pela carreira, mas nós lhe devemos um simples, singelo e muito sincero, MUITO OBRIGADO.